Com certeza, você conhece alguém que já passou pelo delicado momento de perder o emprego. Nesta fase de nossas vidas, é natural a preocupação com as questões práticas: Como encontrar um novo emprego? Por quanto tempo o consigo manter meu estilo de vida? O que fazer até me recolocar profissionalmente? As incertezas são muitas e é nesse momento que emergem conflitos internos e sentimentos nunca antes encarados de tão perto. Para ajudar a resolver esses impasses, o caminho do autoconhecimento é uma das soluções juntamente com a busca de apoio com pessoas que já passaram pela mesma situação.
Neste processo, percebemo-nos questionando sobre quem somos – afinal, o Ser Profissional é um grande papel que desempenhamos durante nossas vidas. Quando perdemos o emprego, estamos perdendo uma parte de nós mesmos. Quando passamos muito tempo em uma determinada empresa, nossa identidade se mistura com nosso cartão de visitas. Muitas vezes, deixamos o nome de nossas famílias de lado e assumimos o relacionamento e o sobrenome da empresa em que trabalhamos. Por algum tempo, fui o Fabrizio do HSBC. Minha colega de departamento era a fulana do RH. Quem nunca foi chamado ou se apresentou de tal forma?
Esse assunto é amplo e será discutido por mim aqui em diversas oportunidades. Hoje, entretanto, gostaria de fazer um recorte e dar destaque a um tema comumente velado: o desemprego e as masculinidades.
Em nossa cultura, a crença do homem forte, vencedor e provedor está profundamente enraizada. A ideia da figura masculina que sai à caça do sustento da família enquanto a mulher cuida do lar e dos filhos tem sido perpetuada ao longo das gerações e passada aos nossos descendentes por meio da imitação. Muitos de nós homens abraçamos automaticamente esse papel sem refleti-lo, discuti-lo ou julgá-lo apropriadamente.
Quando perdemos o emprego e somos destituídos forçadamente de um papel que assumimos inconscientemente, nosso Ser Social é colocado em cheque e um caldeirão de sensações vem à tona. A vergonha toma conta de nós, o conflito interno se acentua e a depressão bate como consequência.
Não precisamos de uma pesquisa para saber que os homens estão mal - basta olhar para o lado. São inúmeros casos de homens que ficam psicologicamente doentes nesse período – e seria um número muito maior se houvesse mais homens dispostos para compartilhar suas histórias e mais instituições para registrá-las. Eu mesmo conheço relatos de ex-executivos, que após serem desligados, não contaram para suas parceiras o que havia acontecido e por algum tempo ainda vestiam seus ternos e gravatas e saiam de casa no horário comercial só para fugir de sua atual realidade. As histórias podem até parecer ficção, mas nos fazem perguntar: Por que isso acontece?
A resposta não é simples, mas caminho para ela é claro. No centro dessa discussão estão as masculinidades tóxicas.
Ao longo de nossas vidas, somos “educados” com uma série de crenças irreais de como o homem deve ser, agir e pensar. Desde crianças escutamos que temos de ser sempre fortes, ativos, estar no controle, sermos competitivos, bem sucedidos, não desistirmos etc.. Também somos ensinados o que não devemos fazer, sentir e acreditar. No nosso dia a dia, repetidamente ouvimos que brigar é bom, que perder te faz mais fraco, que menino não usa rosa, não dança, não canta e por aí vai.
É interessante notar que muitos dos valores postos como negativos ao homem são taxados como prioritariamente femininos. Quando não seguimos o padrão, somos julgados e condenados fortemente. A sexualidade não é algo feito de dois pólos. Não podemos categorizar o que é masculino e o que não é, pois quando o fazemos deixamos um rico universo para trás e assumimos conceitos superficiais, preconceituosos e totalmente prejudiciais aos indivíduos e por conseqüência à sociedade. Mas como podemos quebrar esse paradigma?
No momento em que entendemos que as masculinidades – assim como as feminilidades - são algo amplo e dinâmico em nossa sociedade e que devem ser discutidas, revisadas e compartilhadas, teremos relações mais saudáveis e seres humanos mais felizes consigo mesmos. Conceitos como o do “homem caçador” que sustenta a família cairão e serão substituídos por relações equilibradas de parceria entre os casais, nas quais cada um contribui de forma harmônica e possível dentro de cada fase da vida.
É fundamental que os homens busquem grupos de apoio sobre as masculinidades em que possam compartilhar suas aflições, medos, desejos, angústias, sonhos e ao mesmo tempo ouvir de forma empática o relato de seus pares. Experiências como essas são enriquecedoras e nos fazem compreender muito melhor a nos mesmos ao próprio mundo. Muito em breve publicarei mais sobre esse assunto aqui.
Por meio dessa perspectiva, o homem que busca uma recolocação profissional terá equilíbrio emocional e estará íntegro para percorrer este novo ciclo. Encontrar um novo emprego é um momento que exige tempo, paciência e acolhimento. Cabe a nós diariamente repensarmos os nossos valores e construirmos uma sociedade nova e equilibrada.
E você, o que acha do assunto? Já passou por uma situação parecida ou conhece algum caso próximo a você? Comente aqui em baixo e fomente essa discussão.
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